A teoria da Sociedade Internacional, também chamada de Escola Inglesa, apresenta uma visão intermediária entre o Realismo Clássico e o Liberalismo. Desenvolvida a partir do final da década de 50. Fundamentada em idéias de pensadores como Thomas Hobbes, Nicolau Maquiavel, Imannuel Kant e Hugo Grotius, tem como ícones os nomes de Martin Wight, Hedley Bull e Adam Watson, responsáveis pelos principais conceitos, idéias e elementos desta teoria das relações internacionais.
De início descrevemos os elementos centrais desta teoria de forma sucinta e objetiva, em seguida faremos uma análise crítica destes elementos com base no contexto histórico em que foi desenvolvida.
PRINCIPAIS ELEMENTOS
Sistema Internacional - diz respeito à política de poder entre os Estados e é formado quando dois ou mais Estados tem impacto suficiente sobre as decisões do outro, fazendo cálculos de poder buscando balanceá-lo;
Sociedade Internacional – parte da premissa da existência de um sistema internacional, a partir do momento em que um grupo de Estados, cientes de certos valores e interesses comuns, estão vinculados por um conjunto comum de regras e participam do funcionamento de instituições comuns;
Sociedade mundial – leva em consideração os indivíduos e as ONG’s; sua ordem está baseada em normas e valores compartilhados por indivíduos internacionalmente, transcendendo a ordem dos Estados.
Além desses conceitos existe a teoria dos três “erres” Realismo, Racionalismo e Revolucionismo que juntas permitem a compreensão das relações internacionais. Essa teoria foi contribuição de Martin Wight. A seguir faremos uma breve descrição de cada uma delas.
Realismo: relações entre Estados baseadas na soberania, ou seja, o sistema anárquico leva à balança de poder, associado ao conceito de sistema internacional e ao positivismo;
Racionalismo: campo de estudo da Sociologia e da História das RI – diálogo entre os Estados, normas e leis num sentido de cooperação – associado à construção da sociedade internacional – abordagem interpretativista;
Revolucionismo: centralidade do indivíduo nas RI e de sua precedência em relação aos Estados e às Relações Internacionais – associado à sociedade mundial.
As idéias de ordem e justiça também são essenciais para compreender as relações internacionais sob a perspectiva da Escola Inglesa, tais idéias foram desenvolvidas por Hedley Bull da seguinte maneira:
Ordem Internacional – é o conjunto de relações entre os Estados ou a totalidade do sistema político internacional podendo ou não existir na política internacional, conforme o momento ou o lugar, ou ainda, pode existir em grau maior ou menor, ordem em oposição à desordem, depende de normas;
Ordem na vida social – elemento essencial das relações humanas independentemente da forma assumida;
Ordem Mundial – entre a humanidade como um todo. É mais fundamental e antiga do que a ordem internacional, porque as unidades definitivas da grande sociedade não são os Estados, mas os seres humanos.
Por fim, Bull também desenvolveu o conceito de justiça da seguinte maneira:
Justiça comutativa – aborda os procedimentos e a reciprocidade; é um processo de reivindicação e contra-reivindicação entre os Estados;
Justiça distributiva – diz respeito aos bens, isto é, se refere à questão de como as mercadorias deveriam ser distribuídas entre os Estados, exemplificada pela idéia de que a justiça exige uma transferência de recursos econômicos dos países ricos para os pobres, uma vez que, pobres e ricos merecem tratamento especial, como a ajuda ao desenvolvimento.
ANÁLISE DA TEORIA DA SOCIEDADE INTERNACIONAL
Algumas considerações sobre esta teoria de relações internacionais devem ser feitas analisando principalmente o contexto histórico em que essa corrente ganhou força, isto é, no auge da bipolarização do mundo – a Guerra Fria.
Nesse período pós Segunda Guerra o foco do debate das relações internacionais também se encontrava polarizado entre o Realismo e o Liberalismo. A partir desse cenário surge a Escola Inglesa, que se apropria de conceitos das duas teorias clássicas antecessoras, contudo criando uma via intermediária, uma fusão alternativa onde se utilizava dos elementos do Realismo e do Liberalismo com o objetivo de entender as relações internacionais e não explicá-las.
Do Realismo foi herdado o conceito de poder com diferenças quanto ao tratamento, do mesmo conservou-se a noção de anarquia internacional, manteve-se o pessimismo e enxergavam na guerra a solução dos impasses internacionais. Já do Liberalismo, conservou-se as idéias de Kant de cooperação, além de inserir os indivíduos e as OI’s e ONG’s como atores ao lado do Estado, alimentando uma esperança sem ilusões de que os Estados viesses a conviver pacificamente o que levaria a humanidade a uma mudança evolucionária.
Da junção desses elementos resulta em mudança revolucionária, não no sentido marxista, mas no sentido de transforma a sociedade internacional afim de que esta venha evoluir.
Outros pontos da Escola Inglesa que se deve dar importância é que ela volta seu olhar para valores culturais; para a igualdade racial; contra a injustiça econômica e para a igualdade soberana dos Estados, o que já sinalizava que muitas idéias poderiam ser derivadas a partir dessas premissas no sentido da emancipação humana originando novas teorias, o que de fato veio ocorrer.
Quanto a noção de Ordem Internacional, não é algo que os Estados busquem ou mesmo algo estabelecido, e sim é um conceito onde a possibilidade de existir é real, em verdade é algo natural, pois os Estados sempre vão existir sob uma ordem instintiva ou forjada. Essa ordem é mantida por meio de interesse comum, de regras e de instituições.
Dentre as instituições efetivas da Sociedade Internacional se encontra: o equilíbrio de poder; direito internacional; diplomacia; o papel das grandes potências e a Guerra. Entre a ordem e a justiça, a ordem é mais fundamental e antiga, é uma condição para que a justiça venha ser realizada.
Por fim a Sociedade Internacional reforça a idéia de soberania afirmando que os Estados não devem reconhecer outras autoridades políticas que lhes sejam superiores.
O grande mérito da Escola Inglesa sem sombra de dúvida foi abrir a passagem para novos pensamentos nas relações internacionais, principalmente a passagem para o pós-positivismo tão fundamental para se compreender o mundo pós-guerra fria.