A COEXISTÊNCIA PACÍFICA


            O período compreendido entre 1955 e 1968 foi marcado por grandes crises internacionais. No entanto, as duas superpotências não se comportaram de modo similar ao dos primeiros anos da guerra fria, o que denunciava a imperfeição do sistema bipolar. Tal período ficou conhecido como “coexistência pacífica”, e cronologicamente corresponde ao segundo momento da guerra fria, momento este marcado pela flexibilização gradual da ordem bipolar, estabelecida desde o fim da Segunda Guerra Mundial.
            A origem da coexistência pacífica está associada a seis grandes movimentos nas relações internacionais, a saber: o aggiornamento econômico e político da Europa Ocidental; a própria flexibilização intra-imperial; início da desintegração do bloco comunista; descolonização dos povos e nações afro-asiáticas; articulação internacional independente de alguns países da América Latina e finalmente o declínio gradual das armas nucleares nas contendas da balança do poder mundial.
            Em seu conjunto esses seis movimentos contribuíram para re-acomodar forças profundas que fomentavam a ordem bipolar típica tornando a vida internacional menos insegura que no início da guerra fria.
            Quanto à reanimação da Europa, fator decisivo para a coexistência pacífica, é importante salientar algumas considerações. Primeiramente o Plano Marshall teve participação importante nesse processo, bem como a ajuda norte-americana para os países da OECE - Organização Européia de Cooperação Econômica. Esse boom econômico produziu duas modificações no sistema de poder mundial. Primeiro, a mutação de forças profundas da vida internacional, e em s - Comunidade Européia do Carvão e do Aço, cuja base evolui para a Euratom e Mercado Comum nos anos seguintes.
            Em 1954, foi proposta a formação da Comunidade Econômica Européia, onde a energia foi o um dos pontos de partida para a construção da unidade. Com isso os EUA enxergavam na força da Europa um muro de contenção do comunismo. É bom lembrar também que a integração alemã aos programas nucleares europeus solidificou a unidade européia.
            A descolonização da África e da Ásia merece atenção por ter sido o fenômeno das relações internacionais mais espetacular do período. Várias teorias a respeito foram elaboradas onde se percebe que a soma de fatores políticos, econômicos, estratégicos e ideológicos operavam em três níveis, na metrópole, na colônia e no internacional.
            O fato histórico concreto determinante desse fenômeno sem dúvida foi a Conferência da Bandung, onde um grupo de Estados manifestou a distância dos dois mundos, buscando uma alternativa. No primeiro momento, a independência foi eminentemente asiática, já no segundo predominou a independência africana. Tanto os EUA como a URSS se envolveram na descolonização afro-asiática, cada um com seus programas político-econômicos, mas há três fatores fundamentais nesse processo que não estão atribuídos as superpotências, são eles: o nacionalismo africano; tensão declinante da guerra fria e a presença afro-asiática nos foros internacionais no início dos anos 60 foi numericamente expressiva.
            Quanto a América Latina, é importante saber que alguns países nem sempre atuaram a favor da superpotência norte-americana, muitas vezes não se adequaram a ordem bipolar. Com destaque para o Brasil, através de um viés nacionalista e desenvolvimentista através da Operação-Pan-Americana com uma “Política Externa Independente” e a “Diplomacia da Prosperidade”. A Argentina foi mais tímida que o Brasil, mas a instabilidade política interna foi projetada internacionalmente. Já o México, não ultrapassou o nível retórico guardando a tradicional dependência cultural dos EUA.
            A crise interna do bloco comunista, que provocou a cisão da Europa do Leste causada principalmente após a morte de Stálin, colaborou significativamente para a coexistência pacífica do período. Somado a todo este processo veio a ruptura da China com o império soviético. Este fato foi marcante para as relações internacionais, uma vez que, produzia no cenário asiático uma terceira potência. Pequim se equiparou a Moscou e Tóquio.
            Ao passo que a humanidade evoluía, tanto nas ciências quanto nas tecnologias, principalmente nuclear, a sociedade internacional foi percebendo instantaneamente que não havia futuro para um mundo bipolar, prevaleceria à superpotência que tivesse habilidade suficiente para desarmar o outro lado e proibir que novos atores protagonizassem o intrigante, conflituoso e espetacular palco das relações internacionais contemporâneas.



REFERÊNCIAS


SARAIVAS, José Flávio Sombra. História das relações internacionais contemporâneas: da sociedade internacional do século XIX à era da globalização. São Paulo: Saraiva, 2007. PP 212-230.